ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – SEDE

ANO: 1947

LOCAL: NOVA IORQUE, NOVA IORQUE

PAÍS: ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA – USA

DESCRIÇÃO:

“(…) Em 1947, Wallace Harrison convidou-me para fazer parte da equipe de arquitetos que deveria projetar a sede das Nações Unidas. E no mesmo dia em que cheguei a Nova Iorque Le Corbusier telefonou para o hotel pedindo que o encontrasse numa esquina da Quinta Avenida.

Fazia muito frio. Solícito, ele colocou seu capote sobre o meu, dizendo: “Vou fazer como São Francisco.” E, como a casa de Oscar Nitzke ficava perto, caminhamos até lá, ele contando sua história.

Seu projeto começava a ser criticado e queria que eu ficasse a seu lado, colaborando no seu trabalho. Aceitei. E durante alguns dias procurei ajudá-lo, quando Wallace Harrison me convocou a seu gabinete: “Oscar, convidei você para, como todos os outros arquitetos, apresentar seu projeto e não trabalhar com Le Corbusier.” Avisei a Le Corbusier o ocorrido e ele logo respondeu: “Você não pode ir, vai criar confusão.” Mas, dias depois, aconselhou-me: ‘É melhor você ir. Estão esperando seu projeto.’

Em uma semana elaborei meu estudo. Confesso que não gostei do projeto de Le Corbusier. Penso ter sido feito para outro local, e o bloco da Grande Assembleia e dos Conselhos, no centro do terreno, o dividia em dois.

Mantive, no meu projeto, o bloco indispensável das Nações Unidas e separei os Conselhos da grande Assembleia, colocando os primeiros num bloco extenso e baixo, junto ao rio, e ela no extremo do terreno. Tinha criado a Praça das Nações Unidas.

Budiansky, assessor de Le Corbusier, foi o primeiro a vê-lo: ‘Você fez melhor que Le Corbusier.’ E este, que apareceu em seguida, depois de examiná-lo detidamente, comentou: ‘É um projeto elegante!’

Wallace Harrison convocou-me outra vez: ‘Oscar, todos preferem seu projeto, vou propô-lo na próxima reunião.’

Nesse dia, subi no elevador com o arquiteto que representava a China, que me disse: ‘Hoje vou ficar a seu lado.’

Ao iniciar-se a reunião, Le Corbusier tentou mais uma vez defender seu projeto: ‘Não fiz desenhos bonitos, mas é a solução científica de todo o programa das Nações Unidas.’ E eu compreendi que ele se referia aos meus desenhos.

A reunião começou. Wallace Harrison propôs o meu projeto, aceito por unanimidade. Todos me cumprimentaram. Até a secretária veio me abraçar. Meu projeto estava escolhido.

Mas, na saída, Le Corbusier pediu-me: ‘Quero falar com você, amanhã cedo.’

Atendi-o. O que ele queria era mudar a posição da grande Assembleia, levando-a para o centro do terreno: ‘É o elemento hierarquicamente mais importante, e lá é o seu lugar.’ Eu não estava de acordo. Liquidaria com a Praça das Nações Unidas, dividindo de novo o terreno.

Mas Le Corbusier insistiu, e tão preocupado me parecia que resolvi aceitar. E juntos apresentamos um novo estudo, o projeto 23-32 (23 era o número de seu projeto e 32 o meu).

Wallace Harrison não gostou da minha decisão. Afinal, tinha me consultado antes.

E os trabalhos prosseguiram. Pequenas modificações foram feitas e, na realidade, o prédio construído corresponde (é fácil verificar), nos seu volumes e espaços livres, ao projeto 23-32 apresentado.

Mas devo considerá-lo como um trabalho de equipe, nossa tarefa foi apenas definiro partido arquitetônico. O resto, todos os detalhes foram elaborados por Wallace Harrison, Abramovitz e seus colaboradores. De Wallace Harrison, Abramovitz, só lembro correção e amizade.

Quanto a Le Corbusier, nunca comentou, nem falou sobre o projeto 23-32, mas recordo-o meses depois, almoçando em seu apartamento, a me fitar longamente: ‘Você é generoso’, me afirmou.

E senti que, um pouco tarde sem dúvida, ele estava lembrando aquela manhã em Nova Iorque, quando, para atendê-lo, deixei de lado meu projeto, já escolhido pela Comissão de Arquitetos. (…)”  *1

*1 NIEMEYER, O. Minha arquitetura.  Rio de Janeiro: Revan, 2000. p. 24-9.

http://fundacaooscarniemeyer.org.br/obra/pro026