EDIFÍCIO COPAN
ANO: 1952-1962
LOCAL: AVENIDA IPIRANGA 200, CENTRO, SÃO PAULO
PAÍS: BRASIL – BR
DESCRIÇÃO:
O Copan constitui um marco na paisagem da capital paulista. Mesmo quem nunca entrou no edifício identifica, de longe, as curvas que o compõem. Em meio à intensa verticalização do centro, os brises horizontais reforçam a presença do edifício no céu de São Paulo.
No térreo, a galeria instalada no interior de um volume marrom conecta-se à rua por cinco acessos, praticamente as únicas aberturas desenhadas nesse embasamento maciço. As portarias de cada bloco de apartamento – seis, ao todo – são independentes entre si e surgem discretas ora próximo às entradas, ora entre a vitrine das lojas.
A galeria acompanha a inclinação do chão da cidade. Da calçada, a continuidade do revestimento do piso e a ausência de degraus conduzem o usuário à rua interna que se forma. Como numa rua qualquer, é na soleira das lojas que o desnível será claramente marcado, a fim de garantir a concordância da laje horizontal plana com o piso inclinado, da cidade que entra no edifício.
O relevo natural será dissolvido pouco a pouco nos pavimentos superiores da base, até que se atinja a laje plana horizontal dos trinta e dois pavimentos tipo em que se distribuem as 1.160 unidades habitacionais.
Por trás de um edifício desse porte, que chega a possuir CEP próprio, há toda uma história de percalços no processo do projeto e execução da obra.
Na década de 1950, quando se deu a construção, Oscar Niemeyer não tinha como vir do Rio de Janeiro a São Paulo com a frequência necessária para realizar as visitas de acompanhamento. O mesmo acontecia aos calculistas habituados a trabalhar com ele. A equipe de engenheiros paulistas acaba ignorando o princípio da planta livre e oculta os pilares, embutindo-os aleatoriamente nos elementos de vedação. Os vãos são pequenos, chegando a apenas 1 metro. Ainda que não comprometa a obra, o projeto estrutural de fato não alcança a clareza do raciocínio arquitetônico.
A arquitetura previu pilares arredondados e bojudos chegando até o solo dois a dois. No térreo, esses pilares configuram uma espécie de espinha dorsal que revela, com sutileza, a existência do “S” da lâmina de apartamentos. A carga do “paliteiro”, como pode ser chamada a estrutura fragmentada resultante do pouco refinamento do projeto estrutural nos pavimentos tipo, converge para esses pilares graças a um pavimento de transição, posicionado pelo arquiteto imediatamente acima da cobertura do embasamento. Este pavimento, de seção trapezoidal que se prolonga por toda a extensão da lâmina, contém também parte da infraestrutura do edifício.
Alterações de programa foram um obstáculo à parte. Havia a previsão de uma passarela ligando o pavimento mais alto da base do Copan, o Terraço, ao edifício de um hotel, adaptado durante a construção para receber as instalações de um banco. Carlos Lemos, arquiteto nomeado por Niemeyer para acompanhar a obra, teria o cuidado de manter as proporções do edifício do hotel ao projetar o do banco.
Os pavimentos da base, em muitos trechos inclinados (tanto mais quanto mais próximos do térreo), também apresentam um caos estrutural, com espaços residuais que até hoje permanecem ociosos. São pés-direitos exíguos, impróprios para atividades, acessos e circulações verticais não executadas, “finais de linha” súbitos e inexplicáveis e inconstância de aberturas, o que restringiria as possibilidades de uso do local. As lajes do embasamento vibram, quase como se esses vazios estivessem à espera de uma cidade que ainda não aconteceu, que contaria com uma espécie de duplicação ou continuação da rua a alguns pisos acima do térreo existente.
Tudo isso deixa evidências de que o projeto do Copan nunca terminou, por mais que a imagem do edifício faça parecer o que acontece a todas as obras clássicas: que ele sempre tenha estado ali. Esse convívio de presença e incompletude só parece aumentar o caráter único da obra e a validade das soluções arquitetônicas propostas.
O Copan acaba sendo um misto do fantástico e do prosaico. Um passeio pelos fundos do lote, aos pés da lâmina de apartamentos, permite traçar um percurso contínuo, de onde se vê claramente como as curvas dos blocos de apartamentos ao mesmo tempo acolhem a existência do edifício e o afastam dos vizinhos, fazendo com que a cidade respire.
Enquanto isso, é impossível deixar de lembrar que nem mesmo a distância do arquiteto na fase da construção impediu que a definição dos acabamentos fosse coerente com a lógica que costumava adotar. Embora também moderno, diferente do concreto aparente da escola paulista, este ferrenho defensor do concreto armado reveste a estrutura toda com pastilhas. O concreto é, para ele, um instrumento para dar liberdade à forma. E no Copan, inegavelmente, a forma comparece.
Carolina Silva Oukawa é arquiteta e urbanista com graduação e mestrado pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Atualmente, cursa o doutorado na mesma instituição, com a pesquisa Análise Arquitetônica: apontamentos para uma disciplina. É Professora de projeto e desenho arquitetônico na Universidade Paulista (UNIP) desde 2012.
https://www.archdaily.com.br/br/876920/classicos-da-arquitetura-edificio-copan-oscar-niemeyer